Era segunda-feira quando recebi um email da Agência Lema com uma proposta diferente do que costumo receber normalmente. Incrédulo, depois de ler algumas vezes o email, respondi perguntando se era mesmo o que eu estava pensando. Pra minha sorte eu não estava delirando, era um convite pra ir pra Califórnia conhecer a cervejaria Lagunitas. Vamos concordar que não é sempre que recebemos um convite desses. Topei na hora e na sexta embarquei pra São Paulo portanto meu passaporte.
Nessa noite, em uma festa na Fatiado Discos regada a hambúrgueres e Lagunitas IPA, conheci os outros integrantes dessa viagem que ficou marcada na história de cada um de nós. Só tinha gente foda e de várias áreas, porém todos com um pezinho na cerveja. Eram jornalistas, músicos, sommeliers e cervejeiros, todos apaixonados pelo que fazem. Alguns eu já conhecia de outros “carnavais” cervejeiros e no final da viagem já éramos todos amigos e cheio de planos para novos encontros.
Sigam eles aí que vale a pena:
- Jéssica Lopes @jessicalopes
- Jo Machado @chickenorpastasir
- Lucas Fresno @lucasfresno
- Marcelo Costa @screamyell
- Raphael Rodrigues @allbeersbr
- Maria Puebla @mariapuebla
- Jayro Neto @jayropn
- Livia Marra @bompracachorroblog
- Julia Reis @realjuliareis
- Bárbara Fonseca @babilfonseca
- e eu, Edson Carvalho, obviamente @viajantecervejeiro
Chegando em São Francisco
Na segunda feira nos encontramos no aeroporto e partimos pra São Francisco, a primeira parada da nossa viagem na Califórnia. Chegamos na manhã de terça feira e tivemos a tarde livre. Enquanto alguns foram fazer turismo e compras pela cidade, eu e outros cervejeiros do grupo fomos conhecer alguns bares. Às 17h nos encontramos no looby do hotel para a primeira atividade oficial na cidade, um Pub Crawl por alguns bares parceiros da Lagunitas. Nossos guias foram Dino e Russel Smithson, funcionários da cervejaria.
Começamos pelo Johnny Foley’s, um clássico Pub Irlandês todo em madeira, com um grande balcão e vários taps. Na TV uma partida de beisebol distraía àqueles que estavam sozinhos tomando uma cerveja. Cada um de nós empunhou um Pint de Lagunitas IPA e fizemos nosso primeiro brinde oficial. A partir desse momento fomos inseridos de maneira intensa e ininterrupta no mundo Lagunitas. Seguimos para o Vesuvio Café, um icônico bar fundado em 1948 e que tinha como clientes personalidades da geração beat como Jack Kerouac, Allen Ginsberg e Neal Cassidy. Outros artistas como Bob Dylan e Francis Ford Coppola também beberam e se inspiraram por ali. No Vesuvio a Lagunitas veio em jarras que pareciam não ter fim. De lá seguimos para o gran finale do dia, o Pier 23 na baía de São Francisco onde nos esbaldamos com ostras frescas, polvo, mexilhões e outros frutos do mar, sempre com os pints cheio de Lagunitas IPA. O clima estava ótimo, todos super entrosados e se divertindo.
Visita à fábrica em Petaluma
No dia seguinte partimos pra Petaluma, cidade ao norte de São Francisco, onde está a sede da Lagunitas. Mas antes fizemos aquela parada estratégica para fotos na exuberante Golden Gate Bridge.
Foi outro dia intenso com a galera da Lagunitas. Nos reunimos numa espécia de coletiva de imprensa mais informal e batemos um papo com algumas nomes de peso da cervejaria. Entre eles estavam a CEO, Maria Stipp, e os Brewmasters Jeremy Marshall e Mary Nowak. Nesse bate papo, entre uma Lagunitas e outra, foram abordados vários temas como a filosofia open mind da empresa, projeto de expansão para o Brasil, e os 4 pilares que sustentam a cervejaria: Cerveja, Música, Cachorros e Maconha. Na Califórnia, assim como em outros estados do país, maconha não é tabu já que é liberado o uso recreativo.
Um pouco da história e filosofia da Lagunitas
Em 1993 Tony Magee, depois de testar por várias vezes suas receitas caseiras, fundou a cervejaria na pequena cidade de Lagunitas, justificando o nome. Um ano depois transferiu a sede pra Petaluma e lá estão até hoje. Foram crescendo e alcançando outras regiões até que viram a necessidade de abrir uma outra fábrica, dessa vez em Chicago com o intuito de entregar um produto mais fresco aos consumidores de lá. Afinal quanto mais perto e mais fresca, melhor a cerveja.
Todos que conhecem Tony pessoalmente dizem que ele é uma espécie de gênio, cheio de energia e ideias. É um artista antes de tudo, no sentido literal da palavra. Tony Magee é músico e no começo da cervejaria só contratava pessoas que soubessem tocar algum instrumento. Dizia que músicos e artistas em geral são mais abertos a novas ideias e geralmente são desprovidos de preconceito.
Os quatro pilares, cerveja, música, cachorros e maconha, são levados à sério. Criaram um departamento de marketing com foco em projetos de lançamento de bandas independentes. Promovem grandes festivais e convidam essas bandas, previamente selecionadas, para tocar. Esses eventos são abertos para a comunidade assistir gratuitamente com o intuito de promovê-los e fortalecer a cena musical independente da Califórnia.
Possuem também um departamento de responsabilidade social onde atendem ONG’s em geral, incluindo as que cuidam dos nossos melhores amigos, os cachorros. Aliás, a impressão é que todos na cervejaria têm cachorro e o levam para o trabalho. São totalmente pet friendly, e por isso o bar e restaurante da fábrica também recebe os clientes com seus amigos de quatro patas. Os cachorros só não entram na área de produção por questões óbvias. Uma maneira de homenagear essas adoráveis criaturas foi nomear cada tanque de fermentação com o nome de cachorros famosos da TV e do cinema, assim como nomes de finados cãezinhos de funcionários.
Tour na Fábrica da Lagunitas e Taproom
Depois de um produtivo e divertido bate papo, seguimos com o Jeremy e a Mary para o tour na fábrica. O Jeremy representa aquele esteriótipo clássico californiano. Jeitão de surfista, alto astral, cabeludo, vestindo camisas coloridas, bermuda e óculos escuros. Nos mostrou cada detalhe da fábrica e foi respondendo as perguntas da galera. Nesse dia estavam envasando a Lagunitas Hop, a água com gás lupulada e sem álcool. Foi a melhor água com lúpulo que já tomei até hoje.
Os tours acontecem diariamente entre as 13h e 17h, são gratuitos e abertos ao público. Não é possível agendar e são feitos por ordem de chegada. Então já sabe, se quiser fazer um tour, chegue cedo e já procure saber onde colocar seu nome na lista. Se não faz questão dessas visitas, fique pelo bar da fábrica e seja feliz. No taproom você pode provar as outras cervejas da marca, todas on tap. Aproveitamos para almoçar ali mesmo. Alguns foram de hambúrgueres, enquanto eu, pasmem, escolhi a salada. Mas a salada, eu juro, tinha mais bacon que folhas. Tudo muito bom.
As cervejas
Depois do tour pela fábrica fomos provar as outras cervejas da marca em uma degustação guiada pelos brewmasters Jeremy e Mary. Não vou ficar descrevendo cada uma aqui porque não é o propósito, mas o que tenho a dizer é que gostei de todas e da ideia que eles têm das cervejas. Não fazem cervejas super conceituadas ou para ganhar prêmios em concursos, mas sim para que sejam boas e fáceis de beber mantendo a personalidade da Lagunitas. São aquelas que você tem vontade de beber o dia inteiro, sem enjoar. É o que chamamos de cervejas com alto drinkability, ou em uma tradução livre e tosca, cervejas com “bebabilidade”.
A mais famosa delas é a Lagunitas IPA, uma American IPA com 6,2% de teor alcoólico e 45,6 IBU. É uma das IPA’s mais vendida nos Estados Unidos e em breve teremos ela sendo produzida e vendida aqui no Brasil. Não vejo a hora.
Deep Day
Nos primeiros dias da viagem, o pessoal da Lagunitas ficava dizendo pra gente pegar leve nas cervejas porque no último dia participaríamos do Deep Day, algo como Dia Profundo. Falaram que nesse dia iríamos viver com muita intensidade o jeito californiano de ser. Pois bem, esse dia chegou e às 9 da manhã já estávamos na cervejaria para começar nosso Deep Day com um delicioso café da manhã composto por frutas, bagels, burritos, queijos, Bloddy Mary e cervejas. Isso mesmo, Bloody Mary e cervejas as 9 da manhã. Foi lindo!
Depois do café da manhã fomos para o ônibus que já estava nos esperando com um cooler cheio de cervejas. Nosso guia foi o divertidíssimo e super animado Don Chartier. Don é um dos funcionários mais antigos da Lagunitas e por isso faz parte da história da cervejaria. Assim que o ônibus saiu, o Don se levantou, cumprimentou todos nós, pegou uma garrafa de Bourbon, abriu e passou pra gente. Depois pegou duas “canetinhas mágicas” pra dar aquela brisa das boas na galera, se é que você me entende. Eita, que saudades da Califórnia!
O tour seguiu por pontos importantes que fizeram parte da história da Lagunitas, como por exemplo a antiga casa onde Tony Magee começou fazer cervejas na panela, e alguns dos primeiros bares a vender Lagunitas na região.
Fizemos uma parada na praia Dillon. Já estávamos todos animados nesse momento e então nos foi apresentado dois produtos que deixaram tudo ainda melhor. Já falei da água com gás lupulada, certo? Agora pense nessa água com infusão de THC, um dos princípios ativo da maconha. Pois bem, a Lagunitas produz a HI-FI Hops em duas versões, uma com 5mg e THC e outra com 10 mg de THC. Quando perguntei ao Don sobre a diferença delas recebi a seguinte resposta: “A com 5mg de THC é pra trabalhar o corpo, relaxar. Já a com 10mg é pra trabalhar a mente“. Provei e aprovei cada uma delas.
De lá seguimos para um parque de sequoias gigantes, uma reserva florestal que hoje é mantida pela cervejaria. Um espetáculo à parte. Ficamos um tempo bebendo por ali e contemplando aquele espetáculo da natureza e seguimos para um dos lugares que foi um dos ápices da viagem.
A Hog Island Oyster é uma fazenda de ostras a meia hora de Petaluma na beira da Baía Tomales, já no Pacífico. Em uma área toda aberta, com mesas ao ar livre no melhor estilo piquenique dos sonhos, varais de luz dando um charme a parte e com vistas incríveis pra qualquer lugar que você olhava, comemos ostras frescas e gratinadas, sempre com as cervejas da Lagunitas de acompanhamento. O mais legal foi a experiência de pegar as ostras fechadas e a gente mesmo abrir, espremer um limão e comer na hora. Mais fresca, impossível. Eu me empolguei e fiquei abrindo várias, pra mim e pros outros.
Que dias incríveis e inacreditáveis foram esses. E que time sensacional de pessoas que a Lagunitas conseguiu reunir para essa viagem. Só tenho a agradecer à agência Lema e à equipe da Lagunitas Brasil, Diogo, Renata e Mauro, por ter sido um dos escolhidos. Como eu já disse antes, não vejo a hora de começar a tomar Lagunitas por aqui e sentir, nem que seja nas lembranças, um pouquinho de tudo aquilo que vivemos nesses dias na Califórnia.
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Crédito das fotos: Will Bucquoy
Que sonho!!! Muito legal!!
Eu vou até lá dirigindo! Espero conseguir fazer metade do que vc fez!!!!